VICENTE DE CARVALHO
segunda-feira, 31 de março de 2014
Parnasianismo no Brasil
Introdução
A Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura europeia, chegando ao Brasil. Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo.
O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso", que na mitologia grega era o monte do deus Apólo e das musas da poesia. Na França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia.
Características do Parnasianismo
- Objetividade no tratamento dos temas abordados. O escritor parnasiano trata os temas baseando na realidade, deixando de lado o subjetivismo e a emoção;
- Impessoalidade: a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos;
- Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em sí e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético;
- O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas;
- Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto;
- Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas;
- Preferência pelos sonetos;
- Valorização da metrificação: o mesmo número de sílabas poéticas é usado em cada verso;
- Uso e valorização da descrição das cenas e objetos.
Parnasianismo no Brasil
No Brasil, o parnasianismo chegou na segunda metade do século XIX e teve força até o movimento modernista (Semana de Arte Moderna de 1922).
Os principais representantes do parnasianismo brasileiro foram:
- Alberto de Oliveira. Obras principais: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895), Poesias (1900), Céu, Terra e Mar (1914), O Culto da Forma na Poesia Brasileira (1916).
- Raimundo Correia. Obras principais: Primeiros Sonhos (1879), Sinfonias(1883), Versos e Versões(1887), Aleluias(1891), Poesias(1898).
- Olavo Bilac. Obras principais: Poesias (1888), Crônicas e novelas (1894), Crítica e fantasia (1904), Conferências literárias (1906), Dicionário de rimas (1913), Tratado de versificação (1910), Ironia e piedade, crônicas (1916), Tarde (1919).
- Francisca Júlia. Obras principais: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfínges (1903), Alma Infantil (1912).
- Vicente de Carvalho. Obras principais: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor (1902), Poemas e canções, (1908), Versos da mocidade (1909), Páginas soltas (1911), A voz dos sinos, (1916).
* Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia formaram a chamada "Tríade Parnasiana".
Características de Vicente de Carvalho
1 – A partir de Relicário sua arte se firma num Parnasianismo independente, sem o interesse arqueológico e histórico.
2 – Sentimento vivo da natureza e senso amoroso que se exprime conforme o exemplo português tradicional (Rosa - Rosa de Amor, Poemas e Canções, um dos livros mais famosos e queridos da nossa literatura)
3 – Influência Romântica:
- fluência trabalhada por um senso requintado da forma
- facilidade – comunicabilidade
- maestria familiar com o poema longo (melhor organizado)
- originalidade – arabesco sonhador dos versos curtos ou das combinações de verso longo e curto.
4 – Poeta do Mar – pujança e graça como sugestão de ritmos.
5 – Lirismo amoroso (o mar se faz presente) - Palavras ao Mar:- carga lírica veemente
Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias
Tigre a que as brisas da terra o sono embalam
A que o vento do largo eriça o pelo
6 – Lirismo elegíaco – Pequenino Morto, que ao lado de Cântico do Calvário, de Fagundes Varela, representam a melhor expressão elegíaca da nossa poesia.
2 – Sentimento vivo da natureza e senso amoroso que se exprime conforme o exemplo português tradicional (Rosa - Rosa de Amor, Poemas e Canções, um dos livros mais famosos e queridos da nossa literatura)
3 – Influência Romântica:
- fluência trabalhada por um senso requintado da forma
- facilidade – comunicabilidade
- maestria familiar com o poema longo (melhor organizado)
- originalidade – arabesco sonhador dos versos curtos ou das combinações de verso longo e curto.
4 – Poeta do Mar – pujança e graça como sugestão de ritmos.
5 – Lirismo amoroso (o mar se faz presente) - Palavras ao Mar:- carga lírica veemente
Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias
Tigre a que as brisas da terra o sono embalam
A que o vento do largo eriça o pelo
6 – Lirismo elegíaco – Pequenino Morto, que ao lado de Cântico do Calvário, de Fagundes Varela, representam a melhor expressão elegíaca da nossa poesia.
Vicente de Carvalho - Textos
VICENTE DE CARVALHO
(1866-1924)
Nasceu em Santos , estado de São Paulo, Brasil e publicou seu primeiro livro de poesias,Ardentias, em 1885. Formou-se bacharel na Faculdade de Direito de São Paulo SP. participou na Boemia Abolicionista, encaminhando escravos fugitivos para o Quilombo Jabaquara. Candidatou-se a deputado provincial no Congresso Republicano, em 1887, em São Paulo. foi redator do Diário de Santos, e fundou o Diário da Manhã em Santos. Tornou-se Deputado no Congresso Constituinte do Estado em 1891, participando então na Comissão Redatora da Constituinte.
Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1909. No período de 1914 a 1920 foi Ministro do Tribunal de Justiça do Estado, em Santos. Em 1924 publicou Luizinha, comédia em dois atos.
Obra poética: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), Verso e Prosa (1909), Páginas Soltas (1911) e Versos da Mocidade(1912). É considerado um dos principais nomes da poesia parnasiana brasileira.
VELHO TEMA
I
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos
II
Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.
Quero que meu amor se te apresente
— Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: — risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.
Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece; eu te amo, e o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.
Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do teu beijo.
III
Belas, airosas, pálidas, altivas,
Como tu mesma, outras mulheres vejo:
São rainhas, e segue-as num cortejo
Extensa multidão de almas cativas.
Têm a alvura do mármore; lascivas
Formas; os lábios feitos para o beijo;
E indiferente e desdenhoso as vejo
Belas, airosas, pálidas, altivas...
Por quê? Porque lhes falta a todas elas,
Mesmo às que são mais puras e mais belas,
Um detalhe sutil, um quase nada:
Falta-lhes a paixão que em mim te exalta,
E entre os encantos de que brilham, falta
O vago encanto da mulher amada.
IV
Eu não espero o bem que mais desejo:
Sou condenado, e disso convencido;
Vossas palavras, com que sou punido,
São penas e verdades que sobejo.
O que dizeis é mal muito sabido,
Pois nem se esconde nem procura ensejo,
E anda à vista naquilo que mais vejo:
Em vosso olhar, severo ou distraído.
Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:
Ao meu amor desamparado e triste
Toda a esperança de alcançar-vos nego.
Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;
Conto-lhe o mal que vejo, e ele, que é cego,
Põe-se a sonhar o bem que não existe.
V
Alma serena e casta, que eu persigo
Com o meu sonho de amor e de pecado;
Abençoado seja, abençoado
O rigor que te salva e é meu castigo.
Assim desvies sempre do meu lado
Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;
E assim possa morrer, morrer comigo
Esse amor criminoso e condenado.
Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito
Uma ventura obtida com teu dano,
Bem meu que de teus males fosse feito".
Assim penso, assim quero, assim me engano
Como se não sentisse que em meu peito
Pulsa o covarde coração humano.
A FLOR E A FONTE
"Deixa-me, fonte!" Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
"Deixa-me, deixa-me, fonte!
" Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
"Não me leves para o mar".
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
"Ai, balanços do meu galho,
"Balanços do berço meu;
"Ai, claras gotas de orvalho
"Caídas do azul do céu!...
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria
Rolava levando a flor.
"Adeus, sombra das ramadas,
"Cantigas do rouxinol;
"Ai, festa das madrugadas,
"Doçuras do pôr do sol;
"Carícia das brisas leves
"Que abrem rasgões de luar...
"Fonte, fonte, não me leves,
"Não me leves para o mar!...
" As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
PALAVRAS AO MAR
Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pêlo!
Junto da espuma com que as praias bordas,
Pelo marulho acalentada, à sombra
Das palmeiras que arfando se debruçam
Na beirada das ondas - a minha alma
Abriu-se para a vida como se abre
A flor da murta para o sol do estio.
Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras:
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro;
E as leves garças, como olhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o vôo à tona das espumas...
É o tempo em que adormeces
Ao sol que abrasa: a cólera espumante,
Que estoura e brame sacudindo os ares,
Não os saco de mais, nem brame e estoura;
Apenas se ouve, tímido e plangente,
O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,
Langue, numa carícia de amoroso,
As largas ondas marulhando estendes...
Ah! vem daí por certo
A voz que escuto em mim, trêmula e triste,
Este marulho que me canta na alma,
E que a alma jorra desmaiado em versos;
De ti, de tu unicamente, aquela
Canção de amor sentida e murmurante
Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia,
Pela manhã de sol dos meus vinte anos.
O velho condenado,ao cárcere
das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
Os borrifos das ondas desgrenhadas.
Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,
Palpitante de estrelas quando é noite,
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores...
Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
- Longínquo céu - de um esplendor distante.
Debalde, o mar que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu como borrifos,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.
Sei que a ventura existe,
Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa.
Como dentro da noite amortalhado
Vês longe o claro bando das estrelas;
Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas
Da alma entreabrindo, subo por instantes...
O mar! A minha vida é como as praias,
E o sonho morre como as ondas voltam!
Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias!
Tigre de que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pêlo!
Ouço-te às vezes revoltado e brusco,
Escondido, fantástico, atirando
Pela sombra das noites sem estrelas
A blasfêmia colérica das ondas...
Também eu ergo às vezes
Imprecações, clamores e blasfêmias
Contra essa mão desconhecida e vaga
Que traçou meu destino... Crime absurdo
O crime de nascer! Foi o meu crime.
E eu expio-o vivendo, devorado
Por esta angústia do meu sonho inútil.
Maldita a vida que promete e falta,
Que mostra o céu prendendo-nos à terra,
E, dando as asas, não permite o vôo!
Ah! cavassem-te embora
O túmulo em que vives - entre as mesmas
Rochas nuas que os flancos te espedaçam,
Entre as nuas areias que te cingem...
Mas fosses morto, morto para o sonho,
Morto para o desejo de ar e espaço,
E não pairasse, como um bem ausente,
Todo o infinito em cima de teu túmulo!
Fosse tu como um lago,
Como um lago perdido entre as montanhas:
Por só paisagem - áridas escarpas,
Uma nesga de céu como horizonte...
E nada mais! Nem visses nem sentisses
Aberto sobre ti de lado a lado
Todo o universo deslumbrante - perto
Do teu desejo e além do teu alcance!
Nem visses nem sentisses
A tua solidão, sentindo e vendo
A larga terra engalanada em pompas
Que te provocam para repelir-te;
Nem buscando a ventura que arfa em roda,
A onda elevasses para a ver tombando,
- Beijo que se desfaz sem ter vivido,
Triste flor que já brota desfolhada...
Mar, belo mar selvagem!
O olhar que te olha só te vê rolando
A esmeralda das ondas, debruada
Da leve fímbria de irisada espuma...
Eu adivinho mais: eu sinto... ou sonho
Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo
Pelos fundos abismos do teu peito.
Ah, se o olhar descobrisse
Quanto esse lençol de águas e de espumas
Cobre, oculta, amortalha!... A alma dos homens
Apiedada entendera os teus rugidos,
Os teus gritos de cólera insubmissa,
Os bramidos de angústia e de revolta
De tanto brilho condenado à sombra,
De tanta vida condenada à morte!
Ninguém entenda, embora,
Esse vago clamor, marulho ou versos,
Que sai da tua solidão nas praias,
Que sai da minha solidão na vida...
Que importa? Vibre no ar, acode os ecos
E embale-nos a nós que o murmuramos...
Versos, marulho! Amargos confidentes
Do mesmo sonho que sonhamos ambos!
NO TEU ANIVERSÁRIO
No lar cercam-te vozes d´alegria
em bando, em nuvens doiro, mariposas
que o teu olhar atrai. Canções e rosas
sob os teus pés desfolham-se à porfia.
A noite, alva corbelha de mimosas
sobre ti volta o arcanjo da poesia.
Nublam-te o sono as ondas vaporosas
do turib´lo do amor, como de dia.
Vives feliz no angélico ambiente
de fortuna, feliz. Mas considera,
que em um pobre, misérrimo, eu doente,
eu vibraria a lira, se pudera
vibrar a lira frágil e inocente
a bruta e hedionda garra duma fera.
No lar cercam-te vozes d´alegria
em bando, em nuvens doiro, mariposas
que o teu olhar atrai. Canções e rosas
sob os teus pés desfolham-se à porfia.
A noite, alva corbelha de mimosas
sobre ti volta o arcanjo da poesia.
Nublam-te o sono as ondas vaporosas
do turib´lo do amor, como de dia.
Vives feliz no angélico ambiente
de fortuna, feliz. Mas considera,
que em um pobre, misérrimo, eu doente,
eu vibraria a lira, se pudera
vibrar a lira frágil e inocente
a bruta e hedionda garra duma fera.
De
Vicente de CarvalhoPOEMAS E CANÇÕES
(SEGUNDA EDIÇÃO)
Porto: Livraria Chardon, 1909
250 p. 18 cmx 12 cm.
Vicente de CarvalhoPOEMAS E CANÇÕES
(SEGUNDA EDIÇÃO)
Porto: Livraria Chardon, 1909
250 p. 18 cmx 12 cm.
(Conservamos a ortografia antiga, original)
CAIR DAS FOLHAS
“Deixa-me, fonte”! Dizia
A flôr, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
“Deixa-me, deixa-me, fonte!””
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
“Não me leves para o mar”.
E a fonte, rapida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flôr.
“Ai, balanços do meu galho,
“Balanços do berço meu;
“Ai, claras gotas de orvalho
“Caídas do azul do céu!...”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
“Cantigas do rouxinol;
“Ai, festa das madrugadas,
“Doçuras do pôr do sol;
“Caricia das brizas leves
“Que abrem rasgões de luar...
“Fonte, fonte, não me leves,
“Não me leves para o mar!...”
A flôr, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
“Deixa-me, deixa-me, fonte!””
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
“Não me leves para o mar”.
E a fonte, rapida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flôr.
“Ai, balanços do meu galho,
“Balanços do berço meu;
“Ai, claras gotas de orvalho
“Caídas do azul do céu!...”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
“Cantigas do rouxinol;
“Ai, festa das madrugadas,
“Doçuras do pôr do sol;
“Caricia das brizas leves
“Que abrem rasgões de luar...
“Fonte, fonte, não me leves,
“Não me leves para o mar!...”
*
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
SAUDADE
Belos amores perdidos,
Muito fiz eu com perder-vos;
Deixar-vos, sim: esquecer-vos
Fôra de mais, não o fiz.
Tudo se arranca do seio,
— Amor, dezejo, esperança...
Só não se arranca a lembrança
De quando se foi feliz.
Rozeira cheia de rozas,
Rozeira cheia de espinhos,
Que eu deixei pelos caminhos,
Aberta em flor, e aprti:
Por me não perder, perdi-te;
Mas mal posso assegurar-me
— Com te perder e ganhar-me
Si ganhei, ou si perdi...
Muito fiz eu com perder-vos;
Deixar-vos, sim: esquecer-vos
Fôra de mais, não o fiz.
Tudo se arranca do seio,
— Amor, dezejo, esperança...
Só não se arranca a lembrança
De quando se foi feliz.
Rozeira cheia de rozas,
Rozeira cheia de espinhos,
Que eu deixei pelos caminhos,
Aberta em flor, e aprti:
Por me não perder, perdi-te;
Mas mal posso assegurar-me
— Com te perder e ganhar-me
Si ganhei, ou si perdi...
Bibliografia
Obras: Ardentias (1885); Relicário (1888); Rosa, rosa de amor (1902); Poemas e canções (1908); Versos da mocidade (1909); Verso e prosa, incluindo o conto Selvagem (1909); Páginas soltas (1911); A voz dos sinos (1916); Luizinha, contos (1924); discursos e obras políticas e jurídicas.
Biografia
Segundo ocupante da Cadeira 29, eleito em 1º de maio de 1909, na sucessão de Artur Azevedo e recebido por carta na sessão de 7 de maio de 1910.
Vicente de Carvalho (V. Augusto de C.), advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista, nasceu em Santos, SP, em 5 de abril de 1866, e faleceu em Santos, SP, em 22 de abril de 1924.
Era filho do major Higino José Botelho de Carvalho e de Augusta Bueno Botelho de Carvalho. Fez o primário na cidade natal e, aos 12 anos, seguiu para São Paulo, matriculando-se no Colégio Mamede e, depois, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde fez os preparatórios. Aos 16 anos matriculou-se na Faculdade de Direito. Em 1886, com 20 anos, era bacharel em Direito. Republicano combativo, cursava ainda o 4o ano quando foi eleito membro do Diretório Republicano de Santos. Em 1887, era delegado a Congresso Republicano, reunido em São Paulo. Em 1891, era deputado ao Congresso Constituinte do Estado. Em 1892, na organização do primeiro governo constitucional do Estado, foi escolhido para a Secretaria do Interior. Por ocasião do golpe de estado de Deodoro, abandonou o cargo que vinha exercendo. Mudou-se, então, para Franca, município do interior paulista, e tornou-se fazendeiro. Em 1901, regressou a Santos, dedicando-se à advocacia. Em 1907, mudou-se para São Paulo, onde foi nomeado juiz de direito. Em 1914, passou a ministro do Tribunal da Justiça do Estado.
Vicente de Carvalho foi, durante toda a sua vida, um jornalista combativo. Até 1915, sua atuação na imprensa foi quase ininterrupta. Em 1889, era redator do Diário de Santos, fundando, no mesmo ano, o Diário da Manhã, de Santos. Ali manteve ainda colaboração em A Tribuna e fundou, em 1905, O Jornal. Até 1913 colaborou no Estado de S. Paulo. No fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus leitores através dos versos que publicava nas páginas de A Cigarra.
Poeta lírico, ligou-se desde o início ao grupo de jovens poetas de tendência parnasiana. Foi grande artista do verso, da fase criadora do Parnasianismo. Da sua produção poética ele próprio destacou poemas que são de extrema beleza, como: "Palavras ao mar", "Cantigas praianas", "A ternura do mar", "Fugindo ao cativeiro", "Rosa, rosa de amor", "Velho tema", "O pequenino morto".
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